segunda-feira, 6 de julho de 2009

SOL LIGADO NA TOMADA


Por que a energia solar pode ser uma das principais fontes de eletricidade do Brasil na próxima década
Mauricio Moraes
Revista Info Exame – 07/2009

Até 2020, sua casa poderá virar uma pequena usina fotovoltaica. Grandes placas instaladas no telhado ou no terreno vão captar a energia do Sol e transformá-la em eletricidade, que sera consumida por lâmpadas, gadgets e outros eletrônicos. O que sobrar irá diretamente para a rede elétrica, e as concessionárias vão pagar por esse excedente.
Com isso, quase todo mundo terá a chance de se tornar um microempresário do setor energético.

A previsão acima não é um exercício de futurologia. Países como a Alemanha já adotam esse modelo, e com tremendo sucesso. Só no ano passado, foram instalados cerca de 100 mil telhados solares nessepaís. Na opinião de especialistas na área, como Ricardo Rüther, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o mesmo cenário tem grandes chances de se repetir por aqui. “A energia fotovoltaica vai ser competitiva no Brasil dentro de dez anos”, diz.

A preocupação com o aquecimento global fez explodir o interesse por energias renováveis e limpas, que passaram a receber investimentos cada vez maiores em todo o mundo. E o que pode ser mais ecológico do que captar a luz do Sol e convertê-la em eletricidade?

Além da Alemanha, o time das superpotências solares inclui Espanha, Estados Unidos e Japão. Juntos, os quatro países geram aproximadamente 50% dos cerca de 14 gigawatts produzidos no planeta. Lá e aqui, o maior impedimento para a popularização dos sistemas fotovoltaicos está no preço dos equipamentos. Mas os valores têm caído vertiginosamente. No final da década de 70, cada watt produzido por meio de células fotovoltaicas custava nada menos do que 150 dólares. Hoje, o preço varia entre 3 e 4 dólares.

“Quando o valor baixar para entre 1,5 e 2 dólares, conseguirá competir com qualquer outro tipo de energia”, afirma Adriano Moehlecke, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Isso já deve se tornar realidade nos próximos anos, uma vez que a energia solar está cada vez mais em alta. A venda de sistemas desse tipo em todo o planeta aumentou 85% em 2008, na comparação com 2007. E não foi pequena a quantidade de aparelhos comercializados no período: somada, a produção desses módulos fotovoltaicos chega a 8 gigawatts, pouco mais da metade da potência da Usina de Itaipu. No Brasil, no entanto, esse volume ainda é desprezível — os produtos mais bem-sucedidos na área são os aquecedores solares. O que vai fazer esse panorama mudar?

A CIDADE SOLAR

PLACAS SAEM DO FORNO
Pesquisadores brasileiros têm procurado uma solução. É o caso de Moehlecke e da professora Izete Zanesco, também da PUC-RS. Eles montaram uma planta- piloto para produzir módulos fotovoltaicos com tecnologia nacional. A mini-indústria fabrica células solares que alcançam efi ciência energética de até 15,4% — a média mundial está em 14%. “Estamos produzindo todos os dias”, diz Moehlecke. “O próximo passo será transferir essa tecnologia para as empresas.”
Entre a década de 80 e o início dos anos 90, o Brasil já teve uma indústria mundialmente renomada na área de produção de sistemas fotovoltaicos, a Heliodinâmica.

Situada em Vargem Grande Paulista (SP), ela não suportou a concorrência estrangeira, que conseguia fazer produtos mais baratos, e desapareceu do mapa. “Em 1986, fomos responsáveis por mais de 5% da produção mundial”, afi rma Bruno Topel, presidente da empresa. “Agora estamos em reestruturação.” Embora o site da companhia ainda esteja no ar, não é possível mais adquirir seus painéis. A instalação de sistemas solares nas residências, com a venda de parte da energia para as concessionárias, é vista como uma das alternativas mais promissoras para a área superar as difi culdades do passado e deslanchar. Tudo indica que o processo vai começar nos estados em que os preços da energia solar e tradicional devem se igualar primeiro: Minas Gerais, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Ceará. Mas para que um modelo similar ao da Alemanha seja adotado, é necessário mudar a legislação brasileira. Hoje, pessoas físicas não podem conectar cabos à rede elétrica e sair comercializando watts.

USINA POR CONVECÇÃO
A empresa australiana EnviroMission pretende construir na Austrália uma usina solar inovadora. O ar passará por placas concentradoras de calor, que aumentarão a sua temperatura de 30 para 70 graus. Como gases aquecidos tendem a subir, o ar seguirá por uma torre de 1 quilômetro de altura, girando turbinas e produzindo 200 megawatts de energia.

ELETRIZANDO A FLORESTA
Enquanto a mudança não vem, os principais investimentos do governo federal e de empresas estatais do setor concentram-se na energização de comunidades isoladas ou de pontos de difícil acesso no país, como a Amazônia. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2007 havia 1,2 milhão de casas no país sem nenhuma iluminação elétrica, ou 2,3% do total. Em muitos desses lugares, criar conexões à rede sairia caro — algo entre 8 mil e 15 mil reais por quilômetro de extensão. “O uso de sistemas fotovoltaicos é mais viável no processo de eletrifi cação rural”, diz Hamilton Moss, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia.

[img1]

Segundo ele, a instalação de um sistema desse tipo, de 1 kilowatt, custa entre 7 mil e 9 mil dólares. A potência representa o mínimo necessário para o consumo de uma família de quatro pessoas, sem chuveiro elétrico e ar-condicionado. Os sistemas autônomos têm, no entanto, uma desvantagem: a dependência de baterias, carregadas ao longo do dia para que a energia possa ser usada à noite. Além de custarem caro, precisam ser trocadas a cada cinco anos em média. Já os painéis têm garantia de 25 anos.

ÍNDIOS COM ENERGIA SOLAR
Entre os beneficiados pela energia solar estão os índios guatós, do Mato Grosso do Sul. “Eles vivem a 40 horas de barco da cidade mais próxima, no meio do Pantanal”, afi rma Ronaldo dos Santos Custódio, diretor de engenharia da Eletrosul. A concessionária ajudou a instalar 104 placas na aldeia, pelo projeto Luz para Todos. A Eletrosul também montou módulos fotovoltaicosna Ilha do Arvoredo (SC), uma reserva antes 100% dependente de geradores a diesel.
Outra empresa que tem apostado em energia solar é a Petrobras. Além de fi nanciar pesquisas, a estatal usa sistemas fotovoltaicos em plataformas desabitadas.

“Desde que começamos a trabalhar com energias renováveis, em 2001, investimos 10 milhões de reais nessa área”, afirma Paulo Roberto Barreiros, gerente de Gás Natural do Centro de Pesquisas da Petrobras. No ano que vem, a empresa vai construir uma usina solar de 44 kilowatts no Polo Industrial de Guamaré (RN). A unidade funcionará em caráter experimental. Por enquanto, esse modelo de geração de energia não é economicamente viável no Brasil — o alto custo em relação a outras opções, como as hidrelétricas, torna raras as iniciativas desse tipo.

No exterior, vêm ganhando destaque as usinas heliotérmicas. Em vez de painéis com células fotovoltaicas, elas usam concentradores de calor para gerar energia. Como ocupam grandes áreas, sua instalação só é viável em regiões desérticas. Ninguém sabe dizer qual sistema vai prevalecer ou se todos vão coexistir. Mas uma coisa é certa: o futuro ao Sol pertence.

CARROS SOLARES

Veja também:
Casa solar 100% brasileira
Energia solar pode ficar mais barata

Até 2020, sua casa poderá virar uma pequena usina fotovoltaica. Grandes placas instaladas no telhado ou no terreno vão captar a energia do Sol e transformá-la em eletricidade, que sera consumida por lâmpadas, gadgets e outros eletrônicos. O que sobrar irá diretamente para a rede elétrica, e as concessionárias vão pagar por esse excedente.
Com isso, quase todo mundo terá a chance de se tornar um microempresário do setor energético.

A previsão acima não é um exercício de futurologia. Países como a Alemanha já adotam esse modelo, e com tremendo sucesso. Só no ano passado, foram instalados cerca de 100 mil telhados solares nessepaís. Na opinião de especialistas na área, como Ricardo Rüther, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o mesmo cenário tem grandes chances de se repetir por aqui. “A energia fotovoltaica vai ser competitiva no Brasil dentro de dez anos”, diz.

A preocupação com o aquecimento global fez explodir o interesse por energias renováveis e limpas, que passaram a receber investimentos cada vez maiores em todo o mundo. E o que pode ser mais ecológico do que captar a luz do Sol e convertê-la em eletricidade?

Além da Alemanha, o time das superpotências solares inclui Espanha, Estados Unidos e Japão. Juntos, os quatro países geram aproximadamente 50% dos cerca de 14 gigawatts produzidos no planeta. Lá e aqui, o maior impedimento para a popularização dos sistemas fotovoltaicos está no preço dos equipamentos. Mas os valores têm caído vertiginosamente. No final da década de 70, cada watt produzido por meio de células fotovoltaicas custava nada menos do que 150 dólares. Hoje, o preço varia entre 3 e 4 dólares.

“Quando o valor baixar para entre 1,5 e 2 dólares, conseguirá competir com qualquer outro tipo de energia”, afirma Adriano Moehlecke, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Isso já deve se tornar realidade nos próximos anos, uma vez que a energia solar está cada vez mais em alta. A venda de sistemas desse tipo em todo o planeta aumentou 85% em 2008, na comparação com 2007. E não foi pequena a quantidade de aparelhos comercializados no período: somada, a produção desses módulos fotovoltaicos chega a 8 gigawatts, pouco mais da metade da potência da Usina de Itaipu. No Brasil, no entanto, esse volume ainda é desprezível — os produtos mais bem-sucedidos na área são os aquecedores solares. O que vai fazer esse panorama mudar?

A CIDADE SOLAR

PLACAS SAEM DO FORNO
Pesquisadores brasileiros têm procurado uma solução. É o caso de Moehlecke e da professora Izete Zanesco, também da PUC-RS. Eles montaram uma planta- piloto para produzir módulos fotovoltaicos com tecnologia nacional. A mini-indústria fabrica células solares que alcançam efi ciência energética de até 15,4% — a média mundial está em 14%. “Estamos produzindo todos os dias”, diz Moehlecke. “O próximo passo será transferir essa tecnologia para as empresas.”
Entre a década de 80 e o início dos anos 90, o Brasil já teve uma indústria mundialmente renomada na área de produção de sistemas fotovoltaicos, a Heliodinâmica.

Situada em Vargem Grande Paulista (SP), ela não suportou a concorrência estrangeira, que conseguia fazer produtos mais baratos, e desapareceu do mapa. “Em 1986, fomos responsáveis por mais de 5% da produção mundial”, afi rma Bruno Topel, presidente da empresa. “Agora estamos em reestruturação.” Embora o site da companhia ainda esteja no ar, não é possível mais adquirir seus painéis. A instalação de sistemas solares nas residências, com a venda de parte da energia para as concessionárias, é vista como uma das alternativas mais promissoras para a área superar as difi culdades do passado e deslanchar. Tudo indica que o processo vai começar nos estados em que os preços da energia solar e tradicional devem se igualar primeiro: Minas Gerais, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Ceará.

Mas para que um modelo similar ao da Alemanha seja adotado, é necessário mudar a legislação brasileira. Hoje, pessoas físicas não podem conectar cabos à rede elétrica e sair comercializando watts.

USINA POR CONVECÇÃO
A empresa australiana EnviroMission pretende construir na Austrália uma usina solar inovadora. O ar passará por placas concentradoras de calor, que aumentarão a sua temperatura de 30 para 70 graus. Como gases aquecidos tendem a subir, o ar seguirá por uma torre de 1 quilômetro de altura, girando turbinas e produzindo 200 megawatts de energia.

ELETRIZANDO A FLORESTA
Enquanto a mudança não vem, os principais investimentos do governo federal e de empresas estatais do setor concentram-se na energização de comunidades isoladas ou de pontos de difícil acesso no país, como a Amazônia. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2007 havia 1,2 milhão de casas no país sem nenhuma iluminação elétrica, ou 2,3% do total. Em muitos desses lugares, criar conexões à rede sairia caro — algo entre 8 mil e 15 mil reais por quilômetro de extensão. “O uso de sistemas fotovoltaicos é mais viável no processo de eletrifi cação rural”, diz Hamilton Moss, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia.

Ana Araújo

Amazônia: energia solar começa a abastecer comunidades que vivem em pontos isolados

Segundo ele, a instalação de um sistema desse tipo, de 1 kilowatt, custa entre 7 mil e 9 mil dólares. A potência representa o mínimo necessário para o consumo de uma família de quatro pessoas, sem chuveiro elétrico e ar-condicionado. Os sistemas autônomos têm, no entanto, uma desvantagem: a dependência de baterias, carregadas ao longo do dia para que a energia possa ser usada à noite. Além de custarem caro, precisam ser trocadas a cada cinco anos em média. Já os painéis têm garantia de 25 anos.

ÍNDIOS COM ENERGIA SOLAR
Entre os beneficiados pela energia solar estão os índios guatós, do Mato Grosso do Sul. “Eles vivem a 40 horas de barco da cidade mais próxima, no meio do Pantanal”, afi rma Ronaldo dos Santos Custódio, diretor de engenharia da Eletrosul. A concessionária ajudou a instalar 104 placas na aldeia, pelo projeto Luz para Todos. A Eletrosul também montou módulos fotovoltaicosna Ilha do Arvoredo (SC), uma reserva antes 100% dependente de geradores a diesel.
Outra empresa que tem apostado em energia solar é a Petrobras. Além de fi nanciar pesquisas, a estatal usa sistemas fotovoltaicos em plataformas desabitadas.

“Desde que começamos a trabalhar com energias renováveis, em 2001, investimos 10 milhões de reais nessa área”, afirma Paulo Roberto Barreiros, gerente de Gás Natural do Centro de Pesquisas da Petrobras. No ano que vem, a empresa vai construir uma usina solar de 44 kilowatts no Polo Industrial de Guamaré (RN). A unidade funcionará em caráter experimental. Por enquanto, esse modelo de geração de energia não é economicamente viável no Brasil — o alto custo em relação a outras opções, como as hidrelétricas, torna raras as iniciativas desse tipo.

No exterior, vêm ganhando destaque as usinas heliotérmicas. Em vez de painéis com células fotovoltaicas, elas usam concentradores de calor para gerar energia. Como ocupam grandes áreas, sua instalação só é viável em regiões desérticas. Ninguém sabe dizer qual sistema vai prevalecer ou se todos vão coexistir. Mas uma coisa é certa: o futuro ao Sol pertence.

CARROS SOLARES

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Casa solar 100% brasileira
Energia solar pode ficar mais barata

YES, NÓS TEMOS VENTO


Ventania

Yes, nós temos vento

A produção de energia eólica no Brasil ainda é tímida. Mas tem tudo para decolar em 2009
Juliano Barreto
Revista Info Exame – 04/2009

Em breve, o Brasil poderá ter a maior usina eólica do mundo. Só não se sabe ainda se ela estará no Rio Grande do Sul, no Ceará ou se os parques dos dois estados vão disputar megawatt por megawatt o título de maior produtor de energia limpa do país. E a expectativa de projetos desse tipo não fica restrita aos gaúchos e cearenses. Há também iniciativas pipocando em Santa Catarina, no Rio Grande do Norte, na Paraíba e em outros cantos do Nordeste e do Sul.

Apesar de projetos como esses, considerando o total de energia produzida no país, ainda somos nanicos. Se comparado com os Estados Unidos, que têm capacidade instalada de 25 170 MW e com a China, que gera 12 210 MW de energia eólica por ano, o Brasil produz míseros 420 MW. Mas o papel dos cataventos ecológicos aqui é diferente. Ao contrário das nações que buscam saídas para a dependência de fontes esgotáveis e poluentes, o Brasil tem uma vasta capacidade de abastecimento proveniente das usinas hidrelétricas, naturalmente renováveis e com menor impacto ambiental. Assim, as usinas eólicas não chegam com papel de salvadoras da pátria, mas como uma alternativa estratégica.

“Sempre foi dito que os recursos hídricos são ilimitados, mas o considerável aumento do consumo energético no Centro-Sul do país tem mudado esse conceito”, diz Pedro Perrelli, diretor-executivo da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). É nesse ponto que as ventanias podem soprar a favor do Brasil. Historicamente, os períodos com menos chuva são os mesmos em que o país tem mais vento. Surge assim a palavra-chave da energia eólica no Brasil: complementariedade.

Devido as suas características geográficas, o país tem espaço para projetos de todos os tamanhos, servindo estados inteiros ou apenas um parque industrial ou uma fábrica. No parque eólico de Osório, no Rio Grande do Sul, que tem potência instalada de 150 MW e é considerado o maior da América Latina, a meta do governo é usar o local para a geração de energia e priorizar o uso da água para a irrigação e outras atividades. Se confirmada, a duplicação da potência do parque vai gerar energia equivalente ao consumo anual de 1,3 milhão de residências.

[img1] No Ceará, o projeto do Complexo Industrial do Porto do Pecém tem nas turbinas eólicas sua principal fonte de abastecimento. Em um estado que não produz toda a energia que consome, esse reforço vindo dos ventos é essencial para a redução de custos, como foi demonstrado no bem-sucedido parque de Mucuripe. Tanto no Nordeste quanto no Sul, a escolha pela tecnologia eólica não foi só pela consciência ambiental mas também por economia e rapidez.

“Montar um parque eólico é como armar um circo. Para uma estrutura de 2 GW, seria preciso de mil aerogeradores com três mil pás. Podemos produzir isso em seis meses, e a instalação demoraria uns três anos. Para uma hidrelétrica desse mesmo porte, o prazo seria de cinco a dez anos”, afirma Wagner Lapa, executivo sênior de tecnologia da Tecsis,abricante de componentes para usinas eólicas com sede em Sorocaba, no interior de São Paulo.

A Tecsis, que exporta para projetos da GE nos Estados Unidos e trabalha apenas para empresas americanas e espanholas, planeja, em breve, aceitar encomendas brasileiras. Um dos motivos para isso é a desaceleração dos projetos no exterior. “A crise até ajuda a diminuir a pressão pela fabricação de equipamentos, que forçava os fabricantes a aumentar seus preços numa relação de oferta e procura”, diz Hamilton Moss de Souza, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia.

Outro fator para otimismo é a realização de um leilão de reservas de marcado para o segundo semestre deste ano. Diferentemente do que aconteceu nos últimos eventos desse tipo, o leilão será restrito a projetos de energia eólica, separando essa modalidade das demais fontes alternativas de energia, como a solar e a biomasssa.

A ESCOLHA PELA TECNOLOGIA EÓLICA NÃO TEM A VER APENAS COM ECOLOGIA MAS TAMBÉM COM ECONOMIA E RAPIDEZ

TECNOLOGIA AO VENTO
Quem vê fotos de usinas eólicas pode ficar encantado com a leveza dos modernos cataventos que geram energia limpa e poupam a atmosfera de toneladas de poluição. Mas cada megawatt gerado exige o trabalho de toneladas de equipamentos e de uma complexa parafernália de cabos, linhas de transmissão e transformadores.

Mais usadas no Brasil, as pás de 50 metros são fabricadas em fibra de vidro e pesam cerca de nove toneladas cada. Somadas com outras 100 toneladas das turbinas e com a fundação e a torre, cada aerogerador pode chegar a impressionantes 2 205 toneladas.

Por trás das torres, há uma estrutura de transformadores que precisam alterar a frequência da energia captada pelas turbinas, que ainda passa por mais um processo de transformação para o tipo de corrente elétrica usado pelo grid do resto da rede nacional. É uma trabalheira que traz efeitos colaterais, como o aumento no tempo de instalação das usinas, perda de efi ciência e, finalmente, maior custo final da energia.

Para contornar esses problemas, novas soluções, como o uso de fibra de carbono e de geradores que não precisam converter sua energia para a corrente da rede já instalada, estão sendo usadas na Europa e devem, em breve, desembarcar no Brasil. Há ainda a possibilidade de instalar parques eólicos em alto mar. Na Dinamarca existem aerogeradores operando a 20 quilômetros da costa. É mais uma possibilidade eólica que o Brasil, com seus oito mil quilômetros de litoral, pode aproveitar bem.

1 120 GW: é a produção anual de energia eólica no mundo;
420 MW: é quanto o Brasil consegue produzir em um ano;
332 GW: é a meta mundial de produção para 2013.
Fontes: Global Wind Energy Council Outlook 2008 e Abeeólica

Leia também:
Vivendo de brisa

Em breve, o Brasil poderá ter a maior usina eólica do mundo. Só não se sabe ainda se ela estará no Rio Grande do Sul, no Ceará ou se os parques dos dois estados vão disputar megawatt por megawatt o título de maior produtor de energia limpa do país. E a expectativa de projetos desse tipo não fica restrita aos gaúchos e cearenses. Há também iniciativas pipocando em Santa Catarina, no Rio Grande do Norte, na Paraíba e em outros cantos do Nordeste e do Sul.

Apesar de projetos como esses, considerando o total de energia produzida no país, ainda somos nanicos. Se comparado com os Estados Unidos, que têm capacidade instalada de 25 170 MW e com a China, que gera 12 210 MW de energia eólica por ano, o Brasil produz míseros 420 MW. Mas o papel dos cataventos ecológicos aqui é diferente. Ao contrário das nações que buscam saídas para a dependência de fontes esgotáveis e poluentes, o Brasil tem uma vasta capacidade de abastecimento proveniente das usinas hidrelétricas, naturalmente renováveis e com menor impacto ambiental. Assim, as usinas eólicas não chegam com papel de salvadoras da pátria, mas como uma alternativa estratégica.

“Sempre foi dito que os recursos hídricos são ilimitados, mas o considerável aumento do consumo energético no Centro-Sul do país tem mudado esse conceito”, diz Pedro Perrelli, diretor-executivo da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). É nesse ponto que as ventanias podem soprar a favor do Brasil. Historicamente, os períodos com menos chuva são os mesmos em que o país tem mais vento. Surge assim a palavra-chave da energia eólica no Brasil: complementariedade.

Devido as suas características geográficas, o país tem espaço para projetos de todos os tamanhos, servindo estados inteiros ou apenas um parque industrial ou uma fábrica. No parque eólico de Osório, no Rio Grande do Sul, que tem potência instalada de 150 MW e é considerado o maior da América Latina, a meta do governo é usar o local para a geração de energia e priorizar o uso da água para a irrigação e outras atividades. Se confirmada, a duplicação da potência do parque vai gerar energia equivalente ao consumo anual de 1,3 milhão de residências.



Gentil Barreira/Divulgação

Fortaleza: Mucuripe é um dos parques eólicos que aproveitam os ventos fortes do NordesteNo Ceará, o projeto do Complexo Industrial do Porto do Pecém tem nas turbinas eólicas sua principal fonte de abastecimento. Em um estado que não produz toda a energia que consome, esse reforço vindo dos ventos é essencial para a redução de custos, como foi demonstrado no bem-sucedido parque de Mucuripe. Tanto no Nordeste quanto no Sul, a escolha pela tecnologia eólica não foi só pela consciência ambiental mas também por economia e rapidez.

“Montar um parque eólico é como armar um circo. Para uma estrutura de 2 GW, seria preciso de mil aerogeradores com três mil pás. Podemos produzir isso em seis meses, e a instalação demoraria uns três anos. Para uma hidrelétrica desse mesmo porte, o prazo seria de cinco a dez anos”, afirma Wagner Lapa, executivo sênior de tecnologia da Tecsis,abricante de componentes para usinas eólicas com sede em Sorocaba, no interior de São Paulo.

A Tecsis, que exporta para projetos da GE nos Estados Unidos e trabalha apenas para empresas americanas e espanholas, planeja, em breve, aceitar encomendas brasileiras. Um dos motivos para isso é a desaceleração dos projetos no exterior. “A crise até ajuda a diminuir a pressão pela fabricação de equipamentos, que forçava os fabricantes a aumentar seus preços numa relação de oferta e procura”, diz Hamilton Moss de Souza, diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia.

Outro fator para otimismo é a realização de um leilão de reservas de marcado para o segundo semestre deste ano. Diferentemente do que aconteceu nos últimos eventos desse tipo, o leilão será restrito a projetos de energia eólica, separando essa modalidade das demais fontes alternativas de energia, como a solar e a biomasssa.

A ESCOLHA PELA TECNOLOGIA EÓLICA NÃO TEM A VER APENAS COM ECOLOGIA MAS TAMBÉM COM ECONOMIA E RAPIDEZ

TECNOLOGIA AO VENTO
Quem vê fotos de usinas eólicas pode ficar encantado com a leveza dos modernos cataventos que geram energia limpa e poupam a atmosfera de toneladas de poluição. Mas cada megawatt gerado exige o trabalho de toneladas de equipamentos e de uma complexa parafernália de cabos, linhas de transmissão e transformadores.

Mais usadas no Brasil, as pás de 50 metros são fabricadas em fibra de vidro e pesam cerca de nove toneladas cada. Somadas com outras 100 toneladas das turbinas e com a fundação e a torre, cada aerogerador pode chegar a impressionantes 2 205 toneladas.

Por trás das torres, há uma estrutura de transformadores que precisam alterar a frequência da energia captada pelas turbinas, que ainda passa por mais um processo de transformação para o tipo de corrente elétrica usado pelo grid do resto da rede nacional. É uma trabalheira que traz efeitos colaterais, como o aumento no tempo de instalação das usinas, perda de efi ciência e, finalmente, maior custo final da energia.

Para contornar esses problemas, novas soluções, como o uso de fibra de carbono e de geradores que não precisam converter sua energia para a corrente da rede já instalada, estão sendo usadas na Europa e devem, em breve, desembarcar no Brasil. Há ainda a possibilidade de instalar parques eólicos em alto mar. Na Dinamarca existem aerogeradores operando a 20 quilômetros da costa. É mais uma possibilidade eólica que o Brasil, com seus oito mil quilômetros de litoral, pode aproveitar bem.

1 120 GW: é a produção anual de energia eólica no mundo;
420 MW: é quanto o Brasil consegue produzir em um ano;
332 GW: é a meta mundial de produção para 2013.
Fontes: Global Wind Energy Council Outlook 2008 e Abeeólica

Leia também:
Vivendo de brisa
Fonte de pesquisa:http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/energia/